domingo, maio 17, 2009

França ensina ao mundo


Decisão histórica apoiada por premios Nobel

Vejam quem apoiou a decisão.

Vários premios Nobel franceses inclusive de medicina.

Essa eu diria é a melhor noticia para quem vive uma condição incomum de genero nas ultimas décadas.

As notícias começaram a melhorar com Dr. Gunter Dorner, e depois Swaab, Gorski, Pffaf - que mostraram que cérebro e genitais poderiam naturalmente e organicamente se desenvolver em sentidos discordantes - gerando o que eu chamei de uma NEURODISCORDANCIA DE GENERO.

Depois essa hipótese tem sido confirmada através de muitos laboratórios mundo a fora, mas a psiquiatria resistia aos resultados óbvios.

Depois começamos a mostrar a Fractalidade do Espectro de Genero - o que viabilizou as avaliações pela web, online como eu desenvolvi pela primeira vez no mundo na Gendercare - mas que era visto de forma suspeita por muitos.

Agora a FRANÇA toma a dianteira e a iniciativa - DESCARACTERIZANDO OFICIALMENTE EM SEU SISTEMA DE SAUDE - que a transexualidade (condição incomum de genero extrema) seja necessariamente fruto de uma DOENÇA ou Transtorno MENTAL.

Premios Nobel vêm a publico aprovar a decisão, é impossível permanecer no passado e ignorar esse fato - a OMS terá que levar em consideração esse fato da França despatologizar as condições incomuns de genero ao estabelecer sua futura norma CID-11 em 2012.

Realmente uma decisão histórica da França. Despatologiza as condições incomuns mas preserva os direitos às desejadas correções hormonais e cirurgicas necessárias à harmonização pessoal e social - com reassentamento civil consequente.

Espero que a iniciativa da França se alastre pela Europa - depois pelos USA e no mundo - chegando inclusive a este Brasil que insiste em ser rabo e não cabeça no mundo.

Lynn Conway já nos informa de manifestações nos USA. Como rastilho de pólvora e com base no que sabemos ser verdade, as despatologização mental do que não é nem nunca foi patologia mental vai suceder. Agora é só questão de tempo.

Faremos uma caminhada em Sampa amanhã, saindo da Major Sertório - eu em homenagem à França.

Vive la France!

Vejam a noticia original em frances:

http://www.laprovence.com/articles/2009/05/16/817434-France-La-transsexualite-ne-sera-plus-classee-maladie-mentale-en-France.php


domingo, março 22, 2009

A Controvérsia com Ken Zucker - 2

A controvérsia com Ken Zucker se acirra.

Lynn Conway, da Universidade de Michigan, é uma das notórias críticas de Zucker, e não só dele, mas também de Blanchard e Bailey (da Universidade de Northwestern).

Mas todos nós, Lynn, Kristen Worley no Canadá, a ciclista olímpica MtF, toda OII, toda WGC, nós da Gendercare, estamos contra Zucker e suas pantomimas terapeuticas e "reparadoras" - ou seja, opressoras.

Mas agora ele começou a nos ameaçar - e sua entidade - a CAMH em Toronto - está com advogados nos ameaçando.

Lynn Conway, Kristen Worley e Curtis Hinkle - presidente da OII - estão sendo ameaçados pelos advogados da CAMH e de Zucker - e Lynn está sendo processada.

Veja a carta que Curtis recebeu dos advogados - pois Curtis recebeu notícias de uma paciente de Zucker no CAMH que alega ter sido abusada sexualmente por ele - e Curtis movido pela informação que recebeu e na sua posição de presidente da OII acionou a APA, a WPATH e as autoridades policiais no Canadá - para que tomem providencias e investiguem as possibilidades desse abuso.

Curtis e a OII nada fizeram contra Zucker e a CAMH. Apenas em nome da OII - entidade que fundou e preside - acolheu uma denuncia e solicitou investigações.

Agora recebe ameaças (versão em PDF da carta recebida por Curtis), e a CAMH através de seus advogados quer impedir a ação da OII e a divulgação dos fatos pela OII.

Querem censurar a OII - em seu legítimo direito de acionar as autoridades e informar - quando sabe de um ilícito que precisa ser INVESTIGADO por quem compete fazê-lo.

Também Lynn Connway, PhD tem sido ameaçada e processada, simplesmente por expor sua opinião e mostrar fatos em seu website da Universidade de Michigan - onde é professora emérita na área de engenharia eletronica.

O assunto é muito grave pois Ken Zucker et caterva receberam a delegação da APA para elaborar a revisão da DSM-V - para assuntos sobre situações incomuns de genero.

Vejam o que já saiu desse "comite" presidido por Zucker e sua trupe:

Revisão da DSM-V - considerações publicadas em Novembro de 2008

Por outro lado já se conhece e se denuncia um movimento na APA de não divulgar os conteúdos de seus comites - sonegando informações - uma clara demonstração autoritária de manipulações, como se ve no link a seguir.

Desenvolvendo a DSM-V em Segredo (17th October 2008)

A luta está difícil, mas não vamos desistir.

sábado, março 21, 2009

Normal e Fractal - patalogia ou diversidade?



Muitas condições humanas podem ser reconhecidas como fruto da diversidade natural humana, ou podem ser consideradas como patologias, transtornos ou problemas físicos e mentais.

Nosso assunto é sexo - a conformação sexual - gonadas e genitais - e de genero - a auto-percepção do próprio gênero.

Como podem observar na figura ao lado, a mesma situação pode ser mapeada com base em dois modelos matemático-estatísticos fundamentais: um "gaussiano ou normal" e outro "fractal".

A principal diferença entre eles é que no gaussiano se pode definir médias estáveis - e dispersões dessa média. O médio seria NORMAL e olonge da média ANORMAL (o que torna fácil a patologização do longe da média ou anormal).

Na distribuição fractal, por outro lado, a média não se estabiliza, ela é sempre transiente - com o passar do tempo ou o aumento da quantidade de informações - como os sistemas de criticalidade como descrito para o cérebro no post anterior.

Cabe então perguntar - na natureza e nos assuntos sexo e genero, o sistema é fractal ou gaussiano?

Se fractal, só podemos falar de DIVERSIDADE e não de normalidade.

Hoje sabemos que o sistema de genero e de auto-percepção de gênero É FRACTAL

Clique Aqui para ver porque.

Existem evidencias suficientes hoje em dia para nos permitir sempre questionar a patologização exacerbada de casos naturalmente INCOMUNS - mas não necessariamente ANORMAIS - e muito menos patológicos "a priori" como faz historicamente a psiquiatria e psicologia - geralmente conduzidas mais por ideologias do que por verdadeiras evidencias científicas.

O conhecimento sobre a fractalidade se aprofunda: nossos cérebros

Vejam esta notícia - em ingles - mas importantíssima:

"The human brain is on the edge of chaos

March 20th, 2009 in Medicine & Health /
Modern human brain. Image source: Univ. of Wisconsin-Madison Brain Collection.

Cambridge-based researchers provide new evidence that the human brain lives
"on the edge of chaos", at a critical transition point between randomness
and order.

The study, published March 20 in the open-access journal PLoS
Computational Biology, provides experimental data on an idea previously
fraught with theoretical speculation.

Self-organized criticality (where systems spontaneously organize themselves
to operate at a critical point between order and randomness, can emerge from complex
interactions in many different physical systems, including avalanches,
forest fires, earthquakes, and heartbeat rhythms.

According to this study, conducted by a team from the University of
Cambridge, the Medical Research Council Cognition & Brain Sciences Unit, and
the GlaxoSmithKline Clinical Unit Cambridge, the dynamics of human brain networks have something important in common with some superficially very different systems in
nature.

Computational networks showing these characteristics have also been
shown to have optimal memory (data storage) and information-processing
capacity.

In particular, critical systems (that are fractal systems) are able to respond very rapidly and extensively to minor changes in their inputs.


"Due to these characteristics, self-organized criticality is intuitively attractive as a model for brain functions such as perception and action, because it would allow us to switch quickly between mental states in order to respond to changing environmental conditions," says co-author Manfred Kitzbichler.

The researchers used state-of-the-art brain imaging techniques to measure dynamic changes in the synchronization of activity between different regions of the functional network in the human brain.

Their results suggest that the brain operates in a self-organized critical state.

To support this conclusion, they also investigated the synchronization of activity in
computational models, and demonstrated that the dynamic profile they had found in the brain was exactly reflected in the models. Collectively, these results amount to strong evidence in favour of the idea that human brain dynamics exist at a critical point on the edge of chaos

According to Kitzbichler, this new evidence is only a starting point. "A natural next question we plan to address in future research will be: How do measures of critical dynamics relate to cognitive performance or neuropsychiatric disorders and their treatments?"

________________________________

More information: Kitzbichler MG, Smith ML, Christensen SR, Bullmore E
(2009) Broadband Criticality of Human Brain Network Synchronization. PLoS
Comput Biol 5(3): e1000314. doi:10.1371/journal.pcbi.1000314"

Importantíssima esta constatação agora reportada nesse journal científico. Esse trabalho confirma coisas básicas e fundamentais para que nosso cérebro funcione como funciona. Estando todo o processo mental "na beira do caos" quer dizer que existe uma inerente incerteza - pois o caos gera isso - uma incerteza no desenvolvimento dos sistemas no ambito da fisica classica. Essa incerteza gera a fractalidade dos sistemas.

Tenho estudos feitos que mostram a seguinte relação:

Mecânica Quantica leva à decoerencia - a Mente viva no sentido quantico (de Copenhagen/Von Neumann) gera o colapso como caos - que gera a fractalidade na natureza.

Esses resultados são mais uma indicação que na natureza - como em nossos cérebros - os processos são fractais e não "normais" ou gaussianos.

A coisa é complexa mesmo - desculpem.

Obrigada.




sexta-feira, março 20, 2009

A controvérsia com Ken Zucker

O mundo hoje se encontra nos assuntos de sexo e genero incomuns e atípicos, numa encruzilhada e num momento de definições e novas perspectivas.

Dentro de aproximadamente 3 anos deve haver uma revisão do CID - a versão 11 - da OMS, que inclui assuntos polemicos em suas versões anteriores até a 10ª sobre assuntos de genero. O CID é muito influenciado pela APA - associação de psiquiatras estadunidenses, que emite suas normas DSM, que muito influencia o CID.

Encabeçando o Comitê que reavalia a DSM nos assuntos de gênero, está Ken Zucker - que montou um time todo enviesado de colaboradores e apoiadores nesse comite que dirige.

Ken Zucker e sua trupe defendem as "terapias de reparação" - que querem impedir crianças com problemas de gênero de serem quem são - como fazia John Money - desmascarado depois por Milton Diamond e Colapinto. Ken Zucker volta a insistir, querendo retomar e perpetuar antigos erros e manipulações de crianças, jovens. E adultos, fragilizados, com situações de intersexo ou desenvolvimento incomun de sexo ou genero.

Por outro lado, a WPATH - ex-HBIGDA - da qual sou membro titular desde 2002 - insiste em manter um comite de "Trantornos de Desenvolvimento Sexual" (DSD-disorders of sexual development), ou seja, de INTERSEXO. Sendo assim a direção da WPATH está DESRRESPEITANDO os intersexuais e ULTRAPASSANDO OS LIMITES DE SUA ATUAÇÃO - que deveria se limitar às condições incomuns de gênero - sem entrar em questões de desenvolvimento de genitália atípica.

Como eu mesma, Zucker também é membro da WPATH.

Aí para complicar ainda mais, surge o problema do ABUSO na TERMINOLOGIA. A WPATH adere à nomenclatura tentativa estabelecida por um CONSENSO DE CHICAGO, que propôe o termo DSD para designar todo intersexual como portando uma PATOLOGIA SEXUAL "a priori" com o que não podemos concordar.

Eu mesma, com Milton Diamond, propomos a terminologia mais correta e respeitosa de VSD - variations of sexual development - por exemplo.

Conosco concordam grande parte da WPATH, toda a OII, e toda a WGC-World Gender Coalition.

Estamos num momento de definições.

E já tomamos nossa posição, contra Zucker, contra a terminologia DSD e a favor da terminologia VSD. E não concordamos com nenhuma patologização indiscriminada e "a priori" de ninguém - nem portadores de uma condição incomum de gênero, nem pessoas intersexuais de qualquer matiz.

Obrigada.

Revitalizando a ação da OII no BRasil

Queremos revitalizar a ação da OII no Brasil.

Conclamamos pessoas com qualquer variação atípica no desenvolvimento de sexo e/ou genero, para vir comungar conosco.

Conclamamos também os profissionais que trabalham com esses assuntos - para que usem este espaço para trocar idéias, sugestões, resultados, para nos conhecermos e podermos cooperar na atenção para com este assunto.

Obrigada

domingo, setembro 17, 2006

Recebemos do Dr.Durval Damiani da USP

Cara Dra. Torres,

Eu acabo de vir do 1º Simpósio sobre Anomalias da Diferenciação sexual, que ocorreu na Alemanha (Lubeck), onde tivermos a oportunidade de discutir vários aspectos de tão abrangente tema. Tive a oportunidade de discutir o que escrevi na Carta ao Archives of Diseases in Childhood com o próprio Dr. Hughes e estamos iniciando o planejamento de termos um Simpósio a cada dois anos, alternando com o de Lubeck, onde, aqui em São Paulo, teríamos a oportunidade de discutirmos tão fascinante assunto. Fico à sua disposição para conversarmos e obrigado pelo seu e-mail

Durval Damiani

quinta-feira, setembro 07, 2006

Diretrizes para lidar com pessoas com genitália ambígua


Milton Diamond, Ph.D e H. Keith Sigmundson, M.D.

"A partir da nossa publicação de um artigo sobre um caso clássico de re-designação de sexo [1] a atenção da mídia foi rápida e generalizada [2-4], assim como a reação de vários clínicos. Alguns queriam comentar ou fazer perguntas, mas muitos nos contactaram direta ou indiretamente [5] pedindo diretrizes específicas sobre como lidar com casos de genitália traumatizada ou ambígua. Neste artigo oferecemos nossas sugestões. Mas primeiro, de qualquer modo, colocamos este alerta: essas recomendações são baseadas na nossa experiência, no input de alguns colegas competentes, nos comentários de pessoas intersexuais de várias origens e na melhor interpretação que pudemos dar a partir do estudo da literatura da área. Algumas dessas sugestões são contrárias aos procedimentos atuais de tratamento da intersexualidade. Nós acreditamos, no entanto, que muitos desses procedimentos deveriam ser modificados.

Essas diretrizes não são oferecidas levianamente. Nós prevemos que o tempo e a experiência irão ditar que alguns aspectos serão modificados, e tais revisões irão aperfeiçoar o próximo conjunto de diretrizes que serão oferecidas. Subjacente a essas diretrizes está a crença básica de que os pacientes mesmos devem ser envolvidos em qualquer decisão de algo tão crucial em suas vidas. Nós entendemos que nem todos irão apreciar esta oportunidade ou essas sugestões. Em primeiro lugar, nós defendemos o uso dos termos "típico", "usual" ou "mais freqüente" onde é mais comum o uso do termo "normal". Quando possível deve-se evitar expressões como "mal desenvolvido" ou "sub desenvolvido", "erros de desenvolvimento", "genitais defeituosos", "anormal" ou "erros da natureza". Enfatize que todas essas condições são biologicamente compreensíveis, embora sejam estatisticamente incomuns. Isso ajuda a discussão com pais e criança para que venham a aceitar a condição genital como normal, embora atípica. Pessoas com genitália desse tipo não são anormais, aberrações, mas sim variações biológicas comumente referidas como intersexos. De fato, é nossa compreensão da diversidade natural que uma grande variedade de tipos sexuais e origens associadas devem ser previstos [6,7]. Nosso tema geral é tirar o estigma que cerca essas condições.

Artigo completo:

http://cyborg.sites.uol.com.br/intsex2.htm

segunda-feira, agosto 28, 2006

Intergender Journal

Curtis e amigos e companheiros da OII.

Porque a iniciativa de criarmos um Intergender Journal não podria partir da direção da OII? A Gendercare apoiaria e ajudaria no journal, mas a edição e a iniciativa, assim como a direção do journal seria diretamente da OII?

Assim eu acho que todos, de todas as línguas se motivarão mais e tudo ficará mais fácil, mais comunitário e mais participativo.

Que tal?

Dra.Torres
Gendercare
OII-Brasil

Se souber inglês, visite este site!

Amigos,

Se você tiver condições de ler razoavelmente em inglês, visite este link:

http://www.sfgate.com/cgi-bin/article.cgi?file=/c/a/2006/08/27/MNGL2KQ8H41.DTL

Ele descreve uma extraordinária experiência de respeito à variância de gênero e liberdade de expressão de gênero num Jardim de Infância nos USA.
Uma experiência fantástica, tão diferente de alguns dos exemplos que vivemos no Brasil e em Portugal!

Vale a pena conferir!
Dra.Torres

Informação sobre a OII - Brasil


Organização Internacional de Intersexuais

www.intersexualite.org



O sexo escondido

Uma organização que advoga:

Em favor dos direitos humanos
Contra a compartamentalização binária do sexo

Em favor do direito do indivíduo em se auto-identificar e ter essa auto-identificação respeitada
Contra qualquer “designação sexual” não consentida

Em favor da diversidade
Contra a heteronomia patriarcalista

O que é a intersexualidade?

Nascemos com nossos corpos com um desenvolvimento sexual atípico, não exatamente masculino nem feminino. Para maiores informações visite nosso site ou entre em contato conosco.

OII é uma ONG-organização não governamental registrada na Província de Quebec-Canada com ramificações em todo o mundo.

OII - Brasil

Dra. Wal Torres, MS, PhD.
Porta-voz, OII-Brasil
torrwad@gendercare.com

Para conhecer todos os membros do Conselho da OII, visite:
http://www.intersexualite.org/Board.html

OII é uma ONG com ramificação nos seguintes países:

Argentina – Australia – Belgica – Brasil – Canada
França –Grã Bretanha – India – Espanha – Suiça – USA


Intersexuais com Dignidade

Oferecemos suporte em diferentes línguas:

Grupos de suporte para pessoas intersexuais / intergênero

Congregamos pessoas intersexuais com diferentes condições intersexuais / intergênero

Uma associação de intersexuais / intergêneros que advogam a luta contra a patologização da vivência intersexual

Uma grande comunidade internacional de intersexuais /intergêneros com disfóricos de gênero (TS,TG,CD), feministas, “queer” e “Two Spirit allies”

Congregamos profissionais da saúde (saúde mental, sexual e de gênero) de diferentes países


Princípios Fundamentais da OII

1) Intersexo não é necessariamente uma condição médica: intersexo diz respeito a individuos que nascem com corpos atípicos, intermediários entre o que é considerado tipicamente masculino ou feminino.

2) Contrariamente ao que vulgarmente se considera, as diversas condições intersexuais não constituem necessariamente uma deformidade ou uma “doença”. A necessidade social de bi-compartimentar de forma sexista as possibilidades humanas é artificial e ideológica. São variações possíveis no desenvolvimento humano, que podem levar a variações na auto-percepção de gênero inclusive, na forma como a pessoa se vê e se percebe.

3) Na realidade, a auto-percepção de gênero é que é o referencial mais importante para a percepção de alguém, seja essa auto-percepção qualquer que ela seja, independentemente das artificialidades de se compartimentalizar sexistamente a sociedade.

4) Rejeitamos a categorização automática e simplista das condições intersexuais como categorias médicas, que podem ser percebidas pelos indivíduos como uma variação natural num sistema caracterizado por sua possível diversidade, o que é uma característica de sistemas complexos derivados de sistemas genéticos.

5) Sexo em nossa sociedade é “tabu”. Essa diversidade possível na complexidade do desenvolvimento humano, se considerada em outros sistemas que não o sexual, seria praticamente desapercebida, muitas das vezes.

6) Advogamos seriamente que uma pessoa não se mede por seus genitais (e nem necessariamente por suas gônadas ou cromossomos). Cada ser humano tem o direito a seu corpo, a seus genitais e a sua auto-identificação, de forma autônoma. Interferências autoritárias e heterônomas sobre o corpo e sobre a identidade são inaceitáveis. A sociedade não tem o direito de interferir, impedindo uma pessoa humana de viver e lutar por viver em harmonia consigo mesma, no seu corpo e em sua auto-percepção.

7) Muitos dos problemas vividos em situações de intersexo, derivam do meio socio-cultural, e nem sempre de uma situação médica. Uma posição sexista limitante da diversidade possível, devido a uma ideologia reprodutiva autoritária com uma longa história em nossa sociedade, chega a mutilar autoritariamente bebês que nascem com genitália atípica, a revelia da vontade da vítima indefesa.

8) Por isso denunciamos toda forma de opressão sexista e autoritária, contra as mulheres, contra as pessoas intersexo e intergênero, contra pessoas com qualquer tipo de disforia de gênero, e outras comunidades oprimidas pela ideologia sexista e reprodutiva vigente.

9) Lutamos por promover nossa visibilidade e o reconhecimento de nossa existência como uma parte natural e portanto normal da humanidade, com o fim de beneficiar não apenas os intersexuais / intergêneros, mas outras minorias oprimidas pelo “status quo” ainda prevalente em nossa humanidade.

A Importância dos Aspectos Éticos e Psicológicos na Abordagem do Intersexo

RESUMO

A história das condutas na intersexualidade passou por diferentes períodos ao longo do tempo, sendo o mais importante a era cirúrgica. A condição de ser homem ou mulher era considerada como não sendo inata, mas “apreendida” e sujeita a influências culturais e ambientais. Assim, a conduta preferencial e sistemática era pela criação no sexo feminino, posto que do ponto de vista cirúrgico, seria mais fácil construir uma vagina do que um pênis com funcionalidade sexual futura. Na década de 90, vários outros aspectos começaram a ser considerados, como as questões éticas, ficando evidente a importância da exposição fetal aos andrógenos, os fatores ambientais, culturais e, mais recentemente, do cérebro como órgão endócrino. Passou-se a tentar entender a existência de um amplo espectro entre as identidades masculina e feminina, assim como em relação à forma como o indivíduo conduz seu comportamento sexual na sociedade. Ainda discute-se o aspecto cirúrgico, no sentido de determinar qual o momento ideal para realizar os procedimentos necessários à adequação de acordo com o gênero, e quais os principais aspectos éticos envolvidos. Atualmente, vive-se em um momento mais complexo, onde, trabalhando em equipes multidisciplinares com as famílias, busca-se oferecer uma orientação psicossocial adequada para os pacientes com intersexualidade orgânica, mas ainda não se sabe, com segurança, como atingir esse objetivo.

(Arq Bras Endocrinol Metab 2005;49/1:46-59)
Descritores: Desenvolvimento psicossexual; Diferenciação sexual; Gênero; Hermafroditismo; Intersexo

Artigo completo:
http://www.scielo.br/pdf/abem/v49n1/a07v49n1.pdf